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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O "herança"



Até hoje carrego comigo um velho cobertor de lã, xadrez avermelhado, que me serviu de pelego nas noites de minhas andanças em Rondônia. Foi presente de meu pai, ganho dois dias antes de eu embarcar para Rondônia, há 25 anos. Hoje, dia 14/02, 25 anos e 10 dias de minha partida do pago, meu velho pai se foi.
O cobertor, que tanto me serviu, ganhou o carinhoso apelido de “herança” desde o seu primeiro dia comigo. Não com desdém e nenhuma relação aos parcos bens que o velho tinha. Mas pela importância daquele apetrecho para um gaudério.
Nos quatro meses em que fui andarilho em Rondônia, o cobertor me aquecia nas noites frias dos postos de gasolina e nas árvores dos canteiros da cidade, onde eu me escondia. Mais que aquecer o frio, o cobertor aquecia minha alma nos momentos de carência.
O cobertor apelidado “Herança” não foi a única coisa que ganhei de meu pai e que me serviu nos momentos mais difíceis da vida. A genética é muito mais poderosa que supúnhamos. O nosso maior traço de igualdade está na coragem, no arrojo, na franqueza, no caráter e na lealdade.
Nossas diferenças só eram vistas por nós mesmo, em momentos raros de discórdias. Ele organizado, sequenciado. Eu randômico, atirado. Ele conservador. Eu liberal. Mas tudo isso é normal pela diferença de idade.

Como homenagem póstuma ao meu pai, Lucas Haveroth, deixo um trecho de um poema de Moacyr Ayres.

Eu hoje perdi meu pai,
aquele que não tem mais
o seu pra dar um abraço,
que faça assim como eu faço
neste gesto reverente...
tire a rolha no dente
e ponha o primeiro trago
num recanto do galpão
esporeando o coração
com este modesto presente
que repontei do meu pago!...

E quando eu for no reponte
do nosso “Pai Soberano”
quero ter um filho amigo
pensando em mim neste dia,
lembrando este verso que deixo
ao modo próprio que digo;
pausado e com muita calma,
pondo uma guampa no queixo
de “água benta” pura e fria
esporeando o coração
e se um trago cai no chão
ali estará minh’alma!

3 comentários:

  1. Fiquei emocionada, linda sua homenagem.
    Ontem ouvi uma frase justamente numa missa de enterro de uma pessoa amiga que é a seguinte:
    Quando é que nos morremos.....
    somente quando a ultima pessoa que nos conheceu ou a nossa historia tambem morrer.
    Entao o seu pai nao vai morrer tao cedo né primo...
    Pois voce continuará a sua história.
    Um grande abraço da prima Sônia Haverroth de Mattos

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  2. Lindas palavras, lina homenagem, fica o conforto de um pai que aos seus olhos foi um exemplo e fica o conforto suas lembraças de amor e carinho!

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  3. Deja, meus pêsames pela perda do nosso "tio Lucas". Envio minhas condolências a todos os primos e primas e familiares.
    O tio Lucas escreveu um longo livro, de inúmeros capítulos. Onde soube "tirar de letra" as adversidades que os caminhos lhe apresentaram, sempre com seu característico bom humor!
    Divair J. Fachi

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