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terça-feira, 24 de março de 2015

Como conheci Severino Pegoraro

Eu entrei na vida da família Pegoraro de uma maneira bem interessante. Era o ano de 1993 e eu vivia um dos momentos mais conflituosos de minha vida. Eu era PM e não suportava mais viver conduzido apenas pela coluna vertebral. Meu cérebro estava inutilizado pela inércia e parecia inchado e pesado. Eu estava em busca de uma saída.

Foi nessa época que conheci uma moça interessante, diferente da tantas que eu já tinha visto. Era bonita, alta, magrela, simples e meio caipira. Parecida comigo. Eu também me criei na roça, na mesma região do interior do Paraná que ela. Naquele momento iniciou uma fase marcante da minha vida, fundamental para que eu me tornasse o que sou hoje, em âmbito familiar, profissional e pessoal.

Namoramos durante quatro meses e resolvemos nos casar. Mas para isso eu precisava enfrentar o velho, que morava num sítio em Nova Conquista, a 76 quilômetros de onde eu morava -  Vilhena/Rondônia. Pedi uma Toyota emprestada do amigo Willi Ripke. Só uma Toyota traçada poderia chegar lá. Não havia estrada, só caminho de madeireiros.

Nova Conquista era um assentamento de sem-terra recém-implantado. Não havia água, luz ou outro benefício. Os sitiantes ainda não tinham farturas, só as clareiras no meio da mata e barracos cobertos de tábuas rachadas. No sitio do Pegoraro algumas galinhas no terreiro e um porquinho na seva, engordado a base de mandioca; uma pequena horta com temperos, almeirão e tomate-cereja; na roça mandioca e abacaxi.

Faltava muita coisa lá, mas tinha tudo o que eu procurava naquele momento da minha vida. Chega a ser indescritível o que eu senti naquele lugar com aquela família. Voltei às minhas origens e comecei a reviver valores fundamentais que compunha o meu “eu” mais profundo.

Chegou a hora de pedir a mão da magrela em casamento (eu também era magrelo – com 1,90m de altura, pesava apenas 70k). Chamei seu Pegoraro para a conversa e ele me levou para caminhar pelo sítio. Fomos até a nascente de água, na serra, de onde ele canalizou com bambu a água que servia a casa.

Eu era hiperativo e, embora nem tivesse consciência disso, as pessoas percebiam. Era impaciente e não conseguia ficar sem atividade por um minuto sequer. Seu Pegoraro percebia isso. Quando eu disse que queria me casar com sua filha, ele respondeu:
_ “Eu tenho uma preocupação: você é muito agitado, ligeiro, e minha filha é bem lerda!”.
Na verdade sua filha era tranquila, calma, pacata, muito diferente de mim.

Sempre usei o humor para me sair de situações complicadas. Percebi que, naquele momento, qualquer argumento poderia complicar mais as coisas e talvez não adiantasse nada. Quando ele disse que a “filha era lerda”, respondi, sem pestanejar:
_ “Eu não quero sua filha pra carreira, quero pra tirar umas crias”.
Quando me toquei já tinha feito a brincadeira. O jeito foi fazer uma cara de palhaço e esperar a reação. Pegoraro ficou alguns segundo me olhando, depois soltou uma rizada e respondeu:
_ “Aí sim! É desses que eu gosto!”;

Naquele mesmo dia levei a filha do Pegoraro pra casa. Depois disso saí da polícia e fui morar no sítio em Nova Conquista. Lá reconstruí o meu “eu” destruído pelas pauladas da vida. Em Nova Conquista aprendi a conhecer as pessoas, cometi erros e também aprendi com eles. Morei em Nova Conquista durante quatro preciosos anos e vivenciei algumas das mais importantes experiências da minha vida.

Sobre a promessa que fiz ao Pegoraro, ao pedir a sua filha em casamento, eu também cumpri. Com ela tive três “crias”, das quais me orgulho muito. Seu Pegoraro está doente, não sei como será a sua vida daqui pra frente nem quanto tempo viverá (gostaria que vivesse mais 100 anos). Espero que esse texto chegue até ele, para que saiba que sua missão para comigo foi cumprida com excelência. Sua simplicidade, sua sabedoria, sua pureza e seu exemplo estão gravados em meu coração. E todas as vezes que vejo uma das crias, seus netos, eu vejo um Pegoraro.

4 comentários:

  1. Linda estoria! Emocionante.. no mesmo tempo engraçada ,ta i goste parabéns....

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  2. Que bacana ... emocionante ..... sua historia me levou para um Deja vu ao contrario , me transportou para aquela epoca/tempo , que foi tão marcante para todos nós . EMOCIONANTE..

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  3. Que bacana ... emocionante ..... sua historia me levou para um Deja vu ao contrario , me transportou para aquela epoca/tempo , que foi tão marcante para todos nós . EMOCIONANTE..

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  4. ..._ “Eu não quero sua filha pra carreira, quero pra tirar umas crias”.kkk sabemos que foi só pra descontrair, como gostava de dizer nosso grande Dejão. Apesar de alguns contra tempos a magrela deve ter curtido de montão essa pequena retrospectiva, bom, todos nós curtimos. Pq vc é, e sempre será o cara.

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