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terça-feira, 21 de julho de 2015

Babel e a língua universal

(Crônica publicada em 2007, na terceira edição do jornal "La Carta")
Dejanir Haverroth

Aquela noite foi histórica. Era um Domingo e reuniram-se no Restaurante Mariza, para jantar e chiacchierare, algumas pessoas ilustres presentes II Congresso de Professores de Italiano da Amazônia, em Vilhena.
Nazareno Guerrini era o anfitrião e, como um apaixonado por línguas, convidou diversas pessoas que dominavam outros idiomas. Ricardo (Animale) levou seu Mohamed Hussein (in memoriam), um cientista egípcio que viveu em Vilhena e falava árabe, francês, inglês, alemão e mais meia-dúzia de línguas estrangeiras; Cássia trouxe um dicionário de guarani e um cacique Nambikuara; Mary Labajos trouxe o tio Polico, um peruano bilíngue (fala espanhol e portunhol);  Jovino e Ângela tentavam arranhar um inglês que só fluiu depois da quinta taça de vinho tinto seco, mesmo assim ninguém entendia nada – até agora acho que els falavam alemão. Raquel estava perdida. Nem mesmo conseguia engatar uma conversa – naquelas alturas, ninguém mais queira falar português. Ivone e Gabriel falavam italiano.
Nazzareno falava com todos ao mesmo tempo, mas engatou um papo legal com Cássia e o cacique. Ele é apaixonado por língua indígena. Não havia outras pessoas no ambiente além dos convidados de Nazareno. O restaurante parecia uma torre de Babel. Todos falavam ao mesmo tempo enquanto esperavam a comida.
Eu cheguei mais tarde, já na hora em que era servido o jantar. Naquela noite eu estava responsável por levar uma encomenda especial para um dos visitantes mais ilustres do encontro. Estacionei a cheirosa (apelido da velha Parati empoeirada) do outro lado da rua, acompanhado com a “encomenda” atravessei a rua sem problemas – o trânsito parou. Todos olhavam a bela mulata de 1,75 de altura, cintura fina quadril e busto perfeitos, cabelos alisados e longos, boca larga e olhos grandes.
Entramos juntos no restaurante e os olhares se voltaram como em câmara lenta. Não se ouvia nenhuma voz por longos segundos, até que chegássemos à mesa. Apresentei Edileuza a todos, e ela se limitou a um sorriso, expondo sua arcada dentária que a faz magnética. Apenas a música de fundo tocava enquanto alguns ainda olhavam, boquiabertos, a mulata sentar-se, bem posicionada, à mesa.

A torre de Babel havia sido desfeita e todos pareciam entender-se, mesmo no silêncio. O jantar foi servido e, em seguida, Edileuza saiu muito bem acompanhada, sem ter trocado uma só palavras enquanto esteve ali. Tem coisas que mesmo nunca ditas, todos entendem.

"La Carta" foi um jornal criado por mim, com a participação de Jovino Lobaz, em São Paulo em 2004, por ocasião de um curso de aggiornamento para professores de língua italiana. 

Um comentário:

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