(Crônica publicada em 2006, no jornal "Folha Fupespiana", da Fupesp)
Dejanir Haverroth
Era
uma tarde chuvosa de sexta-feira, 20 de janeiro (2006), quando saímos todos,
rumo a Pimenteiras do Oeste. Durante a viagem o Professor Nazareno, conhecedor
da Amazônia, falava de um chá milagroso, que transformava a alma da gente pelas
florestas e rios, e dava, a quem o tomava, poder de descobrir segredos que nem
a ciência imagina.
O
chá é comum na Amazônia, e pode ser encontrado em qualquer comunidade ou tribo
indígena, e só pessoas privilegiadas podem beber e “viajar”. Dependendo da
capacidade de cada um, o chá pode levar a um passado muito distante, a outras
vidas.
Ficamos
curiosos com as histórias do professor e perguntamos se ele sabia como o chá era
feito. Ele disse tratar-se de um cipó comum na região, chamado Mariri. Todos
queriam provar o tal chá, mas não conseguíamos chegar a tempo, e o ritual só se
repetia na outra sexta-feira. Não aguentei a curiosidade e fui atrás do tal
cipó na mata. Pela descrição do professor, pensei ter encontrado a planta.
Cortei alguns metros do vegetal, coloquei nas costas e parti para o alojamento.
Disfarçadamente preparei um pouco de chá bem forte e mandei para dentro.
Escondi-me de todos e fiquei em silêncio, esperando a tal ‘’viagem’’.
Nazareno
havia dito que demorava cerca de meia hora para o chá começar a fazer efeito.
Ele estava certo. Meia hora depois eu comecei uma série de viagens que
demorariam pelo menos 12 horas para terminar. Conheci todos os cantos das
florestas próximas, mananciais de água, bananais ou qualquer moita que tivesse
por perto. Foi o maior piriri da minha vida. Quando acabou o papel higiênico,
descobri até algumas funções que podem ter as ervas da floresta.
Disfarcei
para que ninguém percebesse a minha humilhante situação, e procurei descobrir o
que deu errado com o meu chá. Perguntei ao professor se o chá poderia causar
outros efeitos, se não o alucinógeno, e ele explicou: existe outro cipó na
mata, que se assemelha ao Mariri, mas trata-se de potente purgante, e só os
ritualistas experientes sabem distingui-los. Essa foi a maior lição que aprendi
com a natureza na Amazônia.
O "Folha Fupespiana" foi um jornal criado por mim em 2006, por ocasião da vinda dos alunos da Universidade de Paulínea à Rondônia, em um intercâmbio.
O "Folha Fupespiana" foi um jornal criado por mim em 2006, por ocasião da vinda dos alunos da Universidade de Paulínea à Rondônia, em um intercâmbio.
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