ATIVISMO AGRARIO:
Um Brasil que poucos conhecem, mas todos julgam
Marginalizado pelas classes dominantes, o ativismo agrário ainda
representa uma alternativa popular pela justiça no campo e nas cidades. O ativista Terrinha falou com exclusividade à Revista Enquete.
Por incrível que pareça, a luta por terra ainda é uma necessidade de
milhares de famílias em Rondônia, onde existem milhares de hectares de terras
públicas devolutas. Os sem-terra e os sem-teto disputam com grandes empresários
e fazendeiros um pedaço de terra para viver.
Nesse contexto surgem líderes altruístas e corajosos que se posicionam
a favor dos pequenos. Nesta edição conheceremos um ativista agrário que luta há
22 anos pelo direita à terra para os menos favorecidos. Pelo menos quatro mil
famílias já foram beneficiadas graças ao ativismo liderado por Irailton Dáurea Souza,
41 anos, conhecido como Terrinha.
Ele não aceita que sua atividade seja chamada de “Grilo” ou “invasão”.
O nome certo, segundo Terrinha, é “ocupação”. “Nosso trabalho é organizado e
não tomamos nada de ninguém, por isso é justo o nome ocupação”, diz o ativista.
Terrinha não age sozinho. Existe uma associação, fundada em Julho de 2015, onde
deu suporte ao trabalho de Terrinha - Associação das Chacareiros e Produtores
de Hortifrutigranjeiro Adelino Ramos – ACHAR.
As pessoas que acompanham Irailton não tomam posse de terras
particulares, exceto em casos onde há negociação entre o proprietário e as
famílias de sem-terra, para que o governo faça a devida desapropriação. Esse
trabalho de intermediação é feito pela ACHAR. “Não acho justo tantas casa
vazias e tantas pessoas sem terra. O Brasil está longe de ter uma reforma
agrária justa.”, defende ele.
Cerca de 4 mil famílias já assentadas ou acampadas graças ao esse
trabalho de Terrinha e
Entre assentamentos e acampamentos liderados por Terrinha somam 11 em
Porto Velho, e 4 em Humaitá/AM.
Para quem pensa que um líder de movimentos se beneficiam com suas
ações, Terrinha mora no bairro Areia Branca, Zona Sul, em um terreno que ganhou
de sua mãe. O terreno ainda não está legalizado como tantas outras áreas na
cidade de Porto Velho. Ele não tem nenhuma área própria, dentre tantas que
ocupou.
Os movimentos agrários acreditam que mais de 80% das terras devolutas
do Estado de Rondônia estão não mãos de poucas pessoas ricas, empresários,
políticos ou fazendeiros, muitas vezes com documentação em nome de laranjas e a
conivência de órgãos que deveriam proteger o patrimônio e fazer justiça.
“Ocupamos terras e distribuímos às pessoas, enquanto os poderosos ocupam terras
devolutas para tornar-se mais ricos ainda.”, protesta.
A ACHAR tem o apoio de outros movimentos sociais ligados aos Sem Tetos, Sem
Terras e outros – que ele prefere não citar. A prefeitura de Porto Velho também
tem dado o apoio ao movimento,
Irailton Dáurea Souza nasceu em Porto Velho no ano de 1975. É filho de
agricultores sem-terra e sem-teto. Desde a infância se deparou com a falta de
uma casa para morar. Sua família não tinha casa, mas ele via as pessoas morando
bem. Então começou a observar que outras pessoas também viviam na mesma
situação de sua família.
Quando tinha 11 anos Irailton conheceu Raquel Candido, que mais tarde
foi deputada federal por Rondônia. Raquel ofereceu um terreno para a sua mãe, e
falou das injustiças sociais e de tanta terra que o Estado de Rondônia tem e
das pessoas que não tem onde morar. Ali nasceu o seu desejo de lutar pelos
desabrigados.
Durante a sua adolescência ele acompanhou a luta de algumas pessoas por
terra para plantar e terrenos urbanos para moradia. Com 18 anos de idade iniciou
sua militância nos movimentos sociais que tratavam de busca de terra. Estava
decidido que esta seria a sua missão na vida.
Dona Rosana e André, chácara no Assentamento Adelino Ramos. No final da
tarde eles tomam café no meio do mandiocal. Eles ganharam a chácara há cerca de
quatro anos.
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